Eu quero ser diretor!

Eu quero ser diretor

Eu quero ser diretor!

Ouço esta frase de muitos candidatos que atuam como heads, gerentes sêniores ou gerentes, assim como de executivos com quem trabalhamos nas consultorias de carreira.

Obviamente, querer crescer na carreira é natural, e não há nada de errado com isso. No entanto, chama a atenção a real motivação.

Ao perceber essa “ideia fixa”, pergunto: “Mas por que seu próximo passo tem que ser como diretor? Não pode ser numa empresa maior, com maior possibilidade de crescimento, escopo mais interessante, maior responsabilidade e maior remuneração – independentemente do nome do cargo?”

Na maioria das vezes, a resposta é negativa – querem, mesmo, é ter o cargo de diretor – mesmo que numa empresa em declínio, com autonomia limitada e numa empresa menor…

Não satisfeito, aprofundo mais um pouquinho. Peço para que me falem um porque o cargo é tão importante – imaginando que virão respostas como “para tomar decisões impactantes para a empresa no médio e longo prazo”, “influenciar diretamente a competitividade da empresa num cenário desafiador”, enfim… Mas, não! O que vem é: este cargo tem maior status, maiores benefícios e uma questão ainda muito forte no imaginário corporativo: “é a posição que ganha muito e trabalha pouco”.

Sempre que ouço isso me lembro de uma conversa que tive já há alguns anos com um amigo meu, VP de um uma das maiores empresas do Brasil. “As pessoas não veem as noites que fico sem dormir. Não sabem da dificuldade de tomar decisões que vão impactar os acionistas, milhares de funcionários e milhões de clientes. Não têm noção da pressão por resultados a cada trimestre, e muito menos da dificuldade de conciliar tantos interesses divergentes dentro da própria empresa.”

A fala deste meu amigo é bastante aderente ao que ouço de muitos destes profissionais. Aliás, é bastante comum essa ideia vir de pessoas que evoluíram muito bem até a posição de gerente sênior, mas aí empacam. Muitos deles sobem enquanto a parte técnica, e um pouco do softskill, ainda são suficientes. Mas daí para frente, o técnico sozinho não resolve. Não é mais só elaborar boas planilhas, análises sofisticadas ou lindos powerpoints. O softskill tem que complementar a parte técnica para lidar com todas as costuras internas e externas à empresa necessárias para viabilizar a estratégia. Muitos destes profissionais com perfil mais técnico tendem, inclusive, a menosprezar essas habilidades. É justamente aí que falham. E invariavelmente começam a adotar um discurso vitimista por não ascenderem a posições de direção.

Almejar a cadeira de diretor é ótimo! Mas não a qualquer custo – e ainda menos com essa fantasia do “ganho fácil”. O exercício pleno desta função requer experiência prática, visão holística (do que está escrito, mas também do que está nas entrelinhas), enorme habilidade de negociação, influência, comunicação, coragem e resiliência – elementos que nem todos têm e que não só os livros de negócios vão ensinar.