Nem sempre teremos as melhores experiências no trabalho. E isso é bom!

Nem sempre teremos as melhores experiências no trabalho. E isso é bom!

Vivemos num mundo onde só se fala em experiência: experiência do cliente, experiência do usuário, experiência do paciente, experiência do colaborador… E é bom que aqueles que provém os serviços pensem em criar os melhores momentos possíveis para quem está usufruindo destes serviços.

Contudo, vejo que este fenômeno vai reforçando pouco a pouco em nossas cabeças um conceito perigoso: o de que devemos sempre ser servidos, quando queremos e da forma que queremos. Devemos sempre ser agradados.

Neste mundo, quando somos contrapostos– e muitas vezes, com total razão! – estranhamos. Nosso nível de tolerância para qualquer coisa diferente do que queremos e pensamos se torna cada vez menor. Nossa tendência (que trazemos, inclusive, de um mundo virtual “perfeito e instagramável”) é simplesmente “cancelar” quem pensa diferente. Mas no mundo real, em específico o mundo do trabalho e nas relações entre líderes e liderados, claramente isso não faz sentido.

Obviamente, não me refiro aqui aos abusos totalmente inconcebíveis de gestores, por exemplo, que passam totalmente dos limites. Nunca me esqueço de um caso caricato de um diretor executivo de uma das maiores empresas do país que descalçava os sapatos e os arremessava nos interlocutores quando achava que estava ouvindo uma bobagem numa reunião. Não há mais espaço para gestores que, mesmo não jogando objetivos em ninguém, gritam descontroladamente, expondo e amedrontando seus times.

No entanto, podemos estar caminhando para um outro extremo. Um gestor que, numa conversa madura e difícil, apresenta de forma educada, reservada, mas firme, os pontos que precisam ser ajustados na conduta de um liderado, não pode ser, por isso, taxado de “tóxico”. Esta contraposição, aliás, feita adequadamente, é salutar não só para a empresa, mas para o crescimento profissional do próprio colaborador! Não podemos criar um ambiente em que qualquer feedback de melhoria seja visto como uma afronta, simplesmente por que não era o que o membro da equipe gostaria de ouvir de seu gestor “fofo”, na sua empresa digna de posts apaixonados no LinkedIn.

Um olhar mais atento a tais questões começa por nós mesmos. Num ambiente em que se fala tanto da importância do aprendizado contínuo e do desenvolvimento das soft skills – enquanto a parte técnica vai migrando cada vez mais para a IA -, temos que crescer emocionalmente.

E é justamente na vivência de experiências imperfeitas, em que ouvimos e refletimos sobre contrapontos legítimos aos nossos olhares, que encontramos oportunidades enormes de amadurecimento. Precisamos saber diferenciar um abuso, um exagero ou uma conduta inadequada da liderança de um ótimo convite a avaliar nossas certezas e formas de agir de forma diferente. Conseguir se sentir confortável num ambiente respeitoso, mas que não foi feito só para nos agradar, é essencial para nosso desenvolvimento e obtenção dos nossos objetivos profissionais.

Por: Joao Paulo Faleiros