28 out O planejamento de carreira em casal
Recentemente eu estava conversando com uma executiva sênior e ela comentou algo bem interessante: “João, eu sempre planejei meus passos de carreira com muita atenção. E em alguns momentos, me permiti tomar decisões mais ousadas. Mas isso sempre foi alinhado com o momento de carreira do meu marido. Me permiti apostar um pouco mais numa troca de empresa quando ele estava consolidado no trabalho dele. E o contrário também aconteceu: por duas vezes, quando eu estava bem nas minhas empresas, ele fez movimentos mais arriscados. Foi uma estratégia que deu certo, ajudando nossa ascensão profissional, sem grandes sustos no meio do caminho.”
Este depoimento, apesar de partir de um raciocínio até certo ponto intuitivo (você não vai se arriscar sem qualquer proteção), chama a atenção num contexto em que grande parte dos executivos sequer faz o planejamento da própria carreira (seguindo o bordão “deixa a vida me levar”), quanto menos em casal.
A questão implícita nesta análise, da qual o casal em questão estava bastante ciente, é que uma troca de emprego sempre tem risco de não dar certo – mesmo quando se toma a decisão de ir para uma empresa e/ou uma posição parecidas com as atuais. Ainda assim, a cultura da empresa pode ser diferente, a relação com o novo gestor ainda terá que ser construída, dentre inúmeros outros fatores que tornam incerto o sucesso na nova empreitada.
E, obviamente, quanto mais distante o novo desafio é do que se faz atualmente, maior o risco nesta mudança. Se você vai para uma empresa de segmento diferente, para ocupar uma posição de natureza distinta ou num nível de senioridade maior que o atual, o movimento se torna mais arriscado.
Isso significa que você não pode assumir tais riscos? Claro que pode. Mas quanto mais ousado este movimento for, mais você deve estar preparado para o caso de ele não dar certo. E neste sentido, contar com a estabilidade profissional do seu cônjuge pode ser um grande trunfo.
Esta análise pode ser mais aprofundada. Conheço casais que, por exemplo, buscaram conscientemente diversificações nas suas carreiras para diluição de riscos. Mesmo tendo se conhecido na faculdade, e atuando na mesma área, evitaram trabalhar no mesmo segmento, de tal forma que uma crise do setor os afetasse ao mesmo tempo. Neste contexto, trabalhar em áreas diferentes, ou em segmentos diferentes, pode ser algo a considerar. E se isso não for possível, talvez seja necessário estabelecer um colchão financeiro mais robusto, justamente pelo maior risco que ambos correm ao atuarem no mesmo setor.
Enfim, as análises podem ser inúmeras, mas o convite aqui é o casal ter momentos de conversa sobre objetivos, finanças e, inclusive, suas carreiras. A ideia não é construir amarras, mas permitir decisões de carreira mais conscientes, aumentando as chances de o casal ter uma vida mais tranquila (mesmo envolvendo a tomada de riscos pontuais bem planejados), evitando maiores sobressaltos na caminhada conjunta.
Por: João Paulo Faleiros