Após uma demissão, empreender é uma opção?

Após uma demissão, empreender é uma opção?

Conversando com muitos executivos, vejo uma história se repetir. Um diretor ou gerente sênior de uma organização, em algum momento da carreira – seja por uma reestruturação, mudança de CEO, M&A ou algo do tipo – acaba sendo demitido. Muitos logo se recolocam numa posição similar à anterior e seguem a vida. Contudo, às vezes não é tão simples. O mercado pode estar retraído, com escassez de oportunidades. E para posições seniores, já há naturalmente menos vagas.

Neste contexto, é comum surgir o questionamento: “Empreender é uma opção?” Muitos são involuntariamente alçados a esta realidade. Surgem alguns convites para trabalhos “freelance”, e a roda começa a girar. Ou ainda pode pintar um convite para ser sócio de uma consultoria. Ótimo! Mas faz sentido este plano B virar o plano A?

Esta pode ser uma excelente oportunidade para repensar a carreira e escolher um novo caminho. Muitos se dão tão bem nesta alternativa que não querem voltar mais para a carreira executiva. Contudo, alguns cuidados são importantes.

A atividade consultiva (escolha de muitos, aproveitando os anos de estrada) possibilita explorar o que têm de melhor: conhecimento e experiência. No desenvolvimento dos projetos, as coisas tendem a fluir bem. Porém, para se fazer um projeto, antes é preciso vendê-lo. E aí começam os problemas.

Muitos não têm qualquer experiência comercial. A reboque, vem outros desafios: divulgação do trabalho para se chegar aos potenciais clientes, elaboração de propostas, precificação correta (equilibrando margem e competitividade), enfim…. Essas atividades, além de requererem habilidades específicas, demandam tempo. E aí, muitos enfrentam uma dificuldade crítica: enquanto estão vendendo, não conseguem executar projetos. E enquanto desenvolvem projetos, não conseguem tempo para vender.

E há mais um desafio: a volatilidade financeira. O voo “solo” ou numa pequena empresa, com seus custos fixos e projetos incertos, é totalmente diferente do que receber o salário todo mês. Por mais que se receba bastante num mês, no outro, é possível que não se receba nada – e ainda haver custos. Aqui, muitos caem.

Neste contexto, é interessante se associar a alguém com habilidades complementares. Se você é bom em entrega, busque alguém bom em vendas – ou até que já tem uma empresa estabelecida. Assim, a jornada tende a ser um pouco menos desafiadora.

Há vida inteligente – e muito feliz – fora das grandes organizações. A demissão pode ser o empurrão necessário para empreender – seja na área em que já se atuava, como acima mencionado, seja numa área totalmente distinta. Mas isso requer coragem, disposição em aprender, esforço e, idealmente, preparação prévia.

Muitos que empreendem não conseguem fazer frente a estes desafios e voltam a procurar emprego pouco depois. Mesmo assim, só o aprendizado adquirido talvez já valha a pena. E quando dá certo, muitos encontram uma realização que nunca tiveram nas grandes corporações.

Por: João Paulo Faleiros