Fazer bem a gestão de pessoas – principalmente remota – não é trivial como muitos dizem…

Fazer bem a gestão de pessoas – principalmente remota – não é trivial como muitos dizem…

Um dos assuntos da semana foi o desligamento de 1.000 colaboradores de um grande banco, sob a alegação de baixa produtividade em home-office. Apesar de conhecer a seriedade da empresa, não tenho detalhes do que aconteceu, o que me impede de tecer muitos comentários sobre o caso em si.

Ainda assim, observando as repercussões, me chamou a atenção o argumento de que gestores deveriam ter fornecido feedbacks claros sobre a baixa produtividade antes dos desligamentos – o que, segundo alguns demitidos, supostamente não teria acontecido. Vamos acompanhar.

Mas essa discussão retoma um ponto que enfatizo há anos: não só fornecer feedback eficazes, mas desempenhar bem todo o processo de gestão de pessoas (contratação, gestão de desempenho, desenvolvimento, reconhecimento, engajamento, entre outros elementos), está longe de ser simples.

Ao longo da minha carreira, ouvi muito a frase, “ah, é tudo culpa do gestor”. Não que ele não tenha responsabilidade – tem muita! Mas a questão é tratada como se gerir pessoas fosse uma trivialidade. Deixar de fazê-la muitas vezes é visto como se o gestor tivesse simplesmente deixado de cumprir burocracias, como preencher formulários ou fazer reuniões pro-forma. Não! Fazer boa gestão de pessoas é requer preparo emocional, técnico e muito esforço.

Antes de tudo, o gestor deve se conhecer bem. Entender seu jeito de funcionar, o que o agrada, o que o irrita, como se comunica e interage com outros. Antes de liderar outros, ele deve liderar a si mesmo – algo que, após ter interagido com inúmeros gestores na minha carreira, tendo a dizer que a maioria (incluindo muitos executivos sêniores) tem dificuldade de fazer.

Além disso, um bom gestor deve conhecer cada membro da sua equipe direta. Entender aspirações, fortalezas, potencialidades, pontos de desenvolvimento, comprometimento… – o que, para se fazer bem-feito, também requer muita dedicação, interação e habilidade.

Fazer tudo isso já é um desafio com a equipe a poucos metros de distância. Remotamente, então…. Com pouco convívio diário, poucos almoços e cafés, dificuldade de leitura do não-verbal em reuniões, este processo é ainda mais dificil. Empresas tentam emular estas questões virtualmente, mas não é a mesma coisa.

Portanto, fazer uma boa gestão de pessoas – ainda mais à distância – não pode ser visto como banal. É, antes de tudo, sobre contato humano, e como tal, é complexo.

Este desafio justifica supostas falhas que podem ter ocorrido no caso das demissões? Não é este meu ponto. O ponto aqui é o olhar menos cuidadoso que se dá para o desafio de formar bom gestores. Antes de tudo, os gestores têm que buscar este desenvolvimento contínuo. E as empresas precisam facilitar este processo. Somente tratando o tema com profundidade, avançaremos. Afinal, apesar de este tema ser tão antigo, vemos diariamente como ele permanece no centro de problemas relevantes das organizações.

 

Por: João Paulo Faleiros