“Gosto de bagunça.”

“Gosto de bagunça.”

Essa é uma frase que já ouvi muitas vezes, dita normalmente por executivos experientes, conscientes de que seu melhor desempenho aparece quando o ambiente ainda está sendo moldado. Quando há muito por fazer, pouca coisa definida e o espaço para decisões é imenso.

Na prática, são profissionais que buscam desafios com certa complexidade: empresas em reestruturação, processos ainda frágeis, sistemas em fase crítica, times a compor. Cenários em que o terreno é instável, mas fértil.

Esse tipo de escolha diz muito. Revela um nível alto de autoconhecimento — a clareza de saber onde se gera impacto real, onde o raciocínio estratégico se conecta com a execução e onde a energia se transforma em entrega.

Ambientes mais estáveis podem oferecer previsibilidade, mas nem sempre favorecem quem se realiza justamente na construção — e não na continuidade.

Por outro lado, nem todo ambiente “desorganizado” está pronto para ser transformado.

É aí que entra uma camada menos visível, mas determinante: o grau de alinhamento entre o desafio que se apresenta e o espaço real para atuar. Se há abertura para decisões consistentes, se a autonomia prometida se confirma na prática, se a liderança tem disposição para sustentar o que, muitas vezes, exige ruptura.

Essa leitura aparece com frequência nas conversas com quem está em transição ou avaliando novos desafios — e costuma ser o ponto de virada entre histórias que evoluem e aquelas que perdem tração ainda no início.

O fato é que o problema nem sempre está na empresa, no escopo ou no profissional. Muitas vezes, ele surge justamente da combinação entre esses elementos.

Por isso, escolher bem vai muito além de identificar talentos. É essencial entender onde e com quais condições esses talentos terão espaço para fazer o que sabem fazer melhor.

 

Alexandre Kalman