Muita espuma e pouco chopp

Muita espuma e pouco chopp

Não é incomum entrevistar executivos e, logo após o término da entrevista, refletir: “Como esse profissional conseguiu se sustentar ao longo da carreira?”. Geralmente, tais profissionais têm uma apresentação pessoal impecável. Uma retórica excelente. Um storytelling da carreira muito azeitado. Mas desde a primeira análise do CV, alguns movimentos já parecem estranhos. E bastam duas ou três perguntas de aprofundamento na entrevista para perceber que o discurso bonito não tem consistência.

Aquele convite para mudar de empresa descrito dois minutos antes na entrevista como “irrecusável e totalmente alinhado ao meu propósito” foi, na realidade, a primeira coisa que apareceu após ser desligado por performance, para ganhar 30% a menos numa posição pouco relevante. A descrição de sua atuação aparentemente “de destaque” num projeto de turnaround que salvou a empresa, por meio do clássico “Nós fizemos isso; depois fizemos aquilo” (usando o “nós” supostamente como sinal de humildade), escondia, na realidade, uma participação coadjuvante no projeto. E quando pedido para dar detalhes a respeito do seu projeto que alavancou em 534% a receita de uma determinada linha de produtos, não vem praticamente nada.

Não encontramos este tipo de profissional só nas entrevistas. Já convivi muito nas empresas em que trabalhei com profissionais que tinham as competências de valorização do próprio trabalho e de comunicação muito desenvolvidas. Não digo que mentiam. Mas o exagero no enaltecimento de tudo o que faziam era tão grande que, por vezes, afetavam suas próprias credibilidades. As entregas aconteciam, mas longe de serem brilhantes como eram descritas. Era muita espuma pra pouco chopp.

Apesar de este tipo de comportamento por vezes gerar uma certa antipatia em quem o percebe esse exagero, é muito importante ressaltar que saber vender os benefícios do seu trabalho, só que na medida correta, é fundamental. Recentemente entrevistei um profissional que era exatamente contrário. Ele tinha experiências muito consistentes no currículo. Os ciclos nas empresas tinham começo, meio e fim. E durante a entrevista, o profissional respondia cada pergunta com total embasamento. A humildade era extrema. Tanta, aliás, que provavelmente fez com que ele não alcançasse posições para as quais ele teria totais condições.

Sempre falei para minhas equipes: temos que ser e parecer. Ser, sem parecer, entrega ótimos resultados, mas nos limita. Não valoriza o nosso trabalho, os resultados alcançados e acaba não sendo lembrado nos momentos de decisão sobre méritos, promoções, alocação nos projetos relevantes da empresa, etc… Por outro lado, parecer, sem ser, é construir uma mansão maravilhosa na areia. Ela chama a atenção e às vezes ela até se sustenta. Mas se passa um vento forte, é facilmente derrubada.

No fim, a carreira tem que ter consistência associada a um bom storytelling. Assim como um chopp bem tirado tem que ter colarinho, na medida certa.

Por: