
04 maio Não suporto mais ser diretor!
Recentemente postei aqui uma reflexão – com base em inúmeras conversas que tenho com gerentes executivos e gerentes – sobre a fixação que muitos deles têm em chegar ao cargo de diretor. Falei um pouco sobre as fantasias deles sobre esta posição. O post rendeu dezenas de comentários, muitos deles dizendo sobre como as pessoas focam tanto no objetivo, mas sem se disporem a passar pelos percalços necessários para chegarem lá. Já outros alertavam que a vida de um diretor não é tão glamourosa como se imagina…
Nesta linha, me chamaram muito a atenção algumas mensagens que recebi no privado. Eram de diretores e ex-diretores que, após atingirem este tão sonhado objetivo, me procuraram quase como num desabafo, relatando justamente o lado obscuro da posição. Apesar de os relatos serem distintos, a teor era parecido. Em suma, diziam que não suportam (ou suportavam) mais a vida de diretor!
Dentre as frases que ouvi nestas conversas, algumas me marcaram: “Quando cheguei, eu esperava a recompensa. Mas só sobrou desilusão”. E também: “Foi por isso mesmo que tanto lutei? Não é possível!”.
Nestas interações, alguns trouxeram mais detalhes: “Ok, ganhei dinheiro. Ganhei status. Mas é daí? Perdi completamente o controle da minha agenda. O papel institucional me consome por completo. Reuniões infindáveis. Viagem toda hora. Pouco consigo manejar qualquer interesse meu fora da empresa. Se eu já tinha pouco tempo para mim ou para a família, agora é que eu não tenho mesmo!”.
Outro me falou: “A equipe é enxuta. Tenho que colocar a mão na massa e, ao mesmo tempo, traçar a direção. É pressão de todo lado! Não quero mais!”.
Por fim, ouvi de outro: “É tudo tão vazio… só quando saí percebi quanto me tornei egoísta. Era tudo para mim, sobre mim. Eu era importante na empresa e levava isso para casa. Me acostumei a ser o centro das atenções e tinha que ser assim em todo lugar. Até minha mãe, com seus 80 anos, tentou me alertar… mas eu estava cego! Só depois percebi o quanto me deixei seduzir, me transformei, passando a ter uma postura nociva pra mim mesmo e para minha família.”.
Obviamente, não são todos os diretores que passam por estas situações. Mas fica evidente que, ao chegar ao topo, muitos sentem fortemente os efeitos colaterais da conquista sobre suas emoções, seus relacionamentos, e acabam percebendo que aquilo que tanto valorizavam antes (dinheiro, status e poder) não os fez tão felizes como imaginavam que os faria.
Estas conversas reforçam como é importante desmistificar estes “Olimpos Corporativos”. Eles são sedutores, mas será que realmente preenchem nossas vidas? Será que precisamos só subir, subir e subir?
Talvez, nesse mundo em que tanto se valoriza o “empoderamento” e o “ser melhor a cada dia”, haja satisfação fora do centro do poder. Talvez, com menos de ambição e até mesmo menos dinheiro, já consigamos ter vidas muito proveitosas. Afinal, será que chegar ao cume é a única forma de sermos felizes?